quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Brasil pleiteia arquivos da ditadura nos EUA



Crédito: Divulgação
Documentos secretos
No site do National Security Archive, estão disponíveis alguns dos documentos norte-americanos sobre a repressão no Chile e na Argentina que foram liberados em 2000. Um deles, um telegrama da embaixada no Chile a Washington, recomenda apoio ao general Pinochet independentemente das acusações de violações aos direitos humanos.


DAYANNE SOUSA
da PrimaPagina

Comissão de Anistia fará reuniões com ONG norte-americana que intermediou liberação de documentos para Chile e Argentina em 2000

A Comissão de Anistia do Ministério da Justiça vai pedir ao governo norte-americano que torne acessíveis arquivos secretos que mencionem o Brasil, processo que já foi feito pelo Chile e pela Argentina. Documentos oficiais dos Estados Unidos que mostrem seu envolvimento na ditadura militar brasileira serão requeridos para acesso público. A negociação deve ser intermediada pela mesma ONG que atuou nos dois outros países, a National Security Archive, ligada à Universidade George Washington.

Segundo o presidente da Comissão de Anistia, Paulo Abrão, os brasileiros farão reuniões com a ONG já no segundo semestre de 2009. Estudos no Brasil mostram que os EUA interferiram de forma direta nas decisões do regime militar que governou o país entre 1964 e 1985, mas nunca houve uma entrega formal de documentos ou a possibilidade de torná-los públicos.

Em 2000, durante o governo de Bill Clinton, o Chile conseguiu a liberação oficial de 16 mil documentos e a Argentina, de outros 4,6 mil, que vieram de órgãos como a CIA (central de inteligência norte-americana), Casa Branca, Departamento de Estado e de Defesa. “Essas possibilidades se fecharam durante o governo Bush, mas esperamos conseguir com a administração Obama”, afirma Abrão.

Trabalhos como o do historiador carioca, Carlos Fico, autor do livro “O Grande Irmão”, apontam que militares no Brasil chegaram a negociar armas e munições com o governo norte-americano durante a instauração do golpe de 64. Abrão imagina que um acordo com os EUA possa trazer episódios inéditos para a história do Brasil. “É possível descobrir uma colaboração mais incisiva dos governos, ou um registro de perseguição a um brasileiro que colabore com o reconhecimento dessa pessoa como uma vítima da repressão”.

Além dos EUA, a Comissão de Anistia busca selar outros dois acordos internacionais até o primeiro semestre de 2009. Uma das possibilidades é formar uma comitiva com países do Cone Sul para buscar documentos na Alemanha. Abrão diz que pouco se sabe ainda sobre esses arquivos, mas que recentemente a embaixada alemã no Paraguai comunicou o país da existência de registros sobre ditaduras latino-americanas em território alemão. Segundo Abrão, o Brasil buscará incluir nas negociações o Uruguai, o Chile e a Argentina.

Outro acordo que deve ser fechado pedirá ao Paraguai registros da participação brasileira na Operação Condor, uma ação coordenada entre países da América do Sul regidos por ditaduras para reprimir esquerdistas. Documentos encontrados pelo pesquisador Martín Almada em 1992 nunca chegaram oficialmente ao Brasil

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