terça-feira, 2 de novembro de 2010

'Não acredito que manipular câmbio resolva coisa alguma', afirma Dilma

Em entrevista ao 'JN', presidente eleita sustenta 'compromisso forte com os pilares da estabilidade macroeconômica'

02 de novembro de 2010 | 0h 00

O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA
SÃO PAULO

Em uma de suas primeiras entrevistas como presidente eleita, Dilma Rousseff (PT) afirmou ontem, com crítica direta ao governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que tem "compromisso forte com os pilares da estabilidade macroeconômica" e manterá o câmbio flutuante.
Segundo ela, com o compromisso, o País estará protegido contra "qualquer tipo de guerra ou especulação internacional". "Não acredito que manipular câmbio resolva coisa alguma. Nós temos uma péssima experiência disso", disse Dilma ao Jornal Nacional, da TV Globo.
Ao deixar ontem à noite o estúdio da emissora, em Brasília, Dilma não quis adiantar que medidas adotará, mas garantiu que não vai fazer "nada que produza marola ou crie confusão".
A presidente eleita afirmou ainda, durante a entrevista, que fará uma transição "técnica e política" e que anunciará a composição de seu governo em "blocos", mas até o momento não há nenhum nome definido.
Durante a entrevista, a presidente eleita comentou reportagens da emissora sobre sua história pessoal e política. E cometeu o deslize de se intitular a "única búlgara - entre aspas - que teve algum sucesso fora da Bulgária". Veja trechos.
Roberto Stuckert Filho
Roberto Stuckert Filho
Sem cortes. Dilma, durante entrevista a William Bonner, nos estúdios da TV Globo: 'Câmbio fixo quase nos levou a uma situação de crise muito grande'
ORIGEM BÚLGARA
"Foi uma emoção para mim e acho que também uma emoção para eles. É um país pequeno. Você imagine, nesse país pequeno, em que o Brasil visto de lá, é 190 milhões de pessoas, é um País que está se desenvolvendo, criando emprego, um País que é visto no mundo como uma das grandes oportunidades. Eu acredito que sou a única búlgara - entre aspas - que teve algum sucesso fora da Bulgária. Eu não sei falar uma palavra em búlgaro. Nada."
DA DITADURA AO PLANALTO
"O mundo foi mudando, e eu com o mundo. Eu agradeço a Deus a oportunidade que Ele me deu de participar do governo Lula. Acho que ali começa o grande sonho da minha geração, que era que o Brasil crescesse e ao mesmo tempo distribuísse renda, que crescesse e ao mesmo tempo milhões de pessoas fossem tiradas da pobreza. E o que eu tenho como missão daqui para frente é continuar esse processo dentro da legalidade, do fortalecimento da democracia, da liberdade de imprensa, continuar esse processo de transformação do Brasil e de estabilidade. Teve, logo no inicio da democracia, um período em que a gente tinha herdado do final da ditadura, que era inflação alta e dívida externa se explodindo. Hoje nós somos um País que tem todas as chances de se transformar."
NOTÍCIA DA VITÓRIA
"Na hora que vem a notícia, você está assim um pouco anestesiado. E aí é preciso que o tempo passe e você absorva todo o impacto de uma notícia desse tamanho, que é uma notícia com a grandeza do Brasil. É uma notícia assim: daqui para frente você vai ser responsável por este país continental e imenso e por 190 milhões. Eu fui chorando aos poucos. Não chorei assim de uma vez só. Chorei chegando em casa, bastante."
COMPOSIÇÃO DO GOVERNO
"Nós vamos fazer uma transição de dois tipos. Uma transição técnica, ou seja, avaliando todos os aspectos técnicos que serão importantes que a gente tome providência no sentido de que sejam aqueles que a gente vai encaminhar primeiro. Em seguida, ou paralelamente, vamos fazer uma transição política, vamos ter de ver a composição do governo, que tem esses dois aspectos. Vou me esmerar para ter um governo em que a escolha dos ministros e dos cargos da alta administração seja provida por esses dois critérios. E eu pretendo não fazer anúncios fragmentados, espalhados ou individualizados - mas fazer por blocos.
ECONOMIA
Eu acho que o câmbio é flutuante, no entanto indícios de que há hoje no mundo uma guerra cambial são muito fortes. Acho que tem moedas subvalorizadas. Então eu acredito que uma das coisas importantes são as reuniões multilaterais em que fique claro que nós iremos usar todas as armas para impedir o dumping, política de preços que prejudiquem as indústrias brasileiras. E vou olhar com muito cuidado, porque não acredito que manipular câmbio resolva coisa alguma. Nós temos uma péssima experiência disso. Você lembra do câmbio fixo, o que ele levou à Argentina e quase nos levou também: a uma situação de crise muito grande. Eu tenho um compromisso forte com a questão dos pilares da estabilidade macroeconômica. Com o câmbio flutuante, e nós temos hoje uma quantidade de reservas que permite que a gente inclusive se proteja em relação a qualquer tipo de guerra ou de manipulação internacional. Mas eu acredito também que nós iremos passar por um momento em que o mundo vai estar com nível de crescimento menor. Agora acredito também que o ajuste das economias internacionais não pode ser feito com base em desvalorizações competitivas, que você tenta ganhar seu ajuste nas costas do resto do mundo.
LIBERDADE DE IMPRENSA
O Brasil pode dar uma demonstração de muita vitalidade com a imprensa livre que nós temos e com essa relação em que muitas vezes as críticas existem, e eu acredito que elas cumprem um papel no Brasil, e pode ter certeza que da minha parte a minha relação com a imprensa vai ser sempre uma relação respeitosa.
Declarações
DILMA ROUSSEFF
PRESIDENTE ELEITA
"Eu tenho compromisso forte com a questão dos pilares da estabilidade macroeconômica. Nós temos hoje uma quantidade de reservas que permite que a gente inclusive se proteja em relação a qualquer tipo de guerra ou especulação internacional"
"Acredito que sou a única búlgara - entre aspas - que teve algum sucesso fora da Bulgária. Não sei falar uma palavra em búlgaro"
"Naquela época (da ditadura) a gente jamais acreditou também que o Brasil viria a se transformar em uma grande democracia"

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