domingo, 14 de novembro de 2010

Herói dos Palmares é lembrado na Semana da Consciência Negra

Grupo de percussão Batuque Novo Cultural Jhamayka toca com crianças, no Conjunto Santa Felicidade: valorização da cultura negra



NegraFábio Massalli A

Walter Fernandes


A semana que começa hoje é de festa para a comunidade negra. Em todo o Brasil se comemora a Semana da Consciência Negra, que culmina com a celebração do Dia de Zumbi dos Palmares no dia 20 de novembro.

Em Maringá, não é diferente. A semana será marcada pelo 2º Festival Afro-Brasileiro, que reúne eventos organizados por várias entidades, realizadas com o apoio da Assessoria da Igualdade Racial (órgão da Prefeitura) e da Associação Comercial e Industrial de Maringá (Acim).

As atividades vão de concurso de dança de rua a exposições, passando por peças de teatro, jantar-show, dança e apresentações de capoeira.

Para a professora Maria Verginia Gonçalves dos Santos, coordenadora do projeto Abrindo Gavetas, a realização dessa série de eventos e da Semana da Consciência Negra é importante para mostrar a cultura africana e afro-brasileira. "É uma cultura que sempre existiu, embora esteja camuflada e ninguém dê valor", diz.

Verginia diz que hoje a cidade vê um número crescente de entidades trabalhando pela causa da consciência negra. São pelo menos oito, numa situação que ela considera um avanço e que representa uma força maior na luta pelos direitos dos afro-descendentes.

A professora também destacou a Lei 10639/2003, que torna obrigatório o ensino da cultura afro-brasileira nas escolas. "No governo Lula tivemos muita abertura para isso e as escolas estão trabalhando. É uma verdadeira reviravolta na história e uma valorização da cultura negra, pois mostra que não existe mais apenas a visão europeia."

Pluricultural

Para Paulo Bahia, coordenador do Centro Cultural Jhamayka, a realização desses eventos é importante para formar uma sociedade pluricultural e preservar a cultura afro-brasileira em Maringá e região.

"Essas manifestações são importantes também para cumprir a Lei do Estatuto Racial, para celebrar Zumbi dos Palmares e discutir a quebra da discriminação", diz.

Bahia destacou, em especial, o papel destes eventos na discussão do preconceito e da discriminação. Ele citou como um avanço o fato de que hoje o negro está na propanganda, inclusive em out-doors, "o que era raro até há bem pouco tempo."

"As pessoas só vão respeitar as diferença quando conhecerem o outro, sua cultura, a culinária, a sua vida", diz. "As crianças estão crescendo tendo orgulho da cor negra da pele." Para Bahia, essa é a importância de se realizar eventos como o dessa semana e da cidade ter um Festival Afro-Brasileiro instituído em lei. "A gente sabe que o preconceito e o racismo existe, mas as pessoas vão verificando que é possível mudar."

Lei

A criação do Festival Afro-Brasileiro aconteceu de forma tumultuada e sua segunda edição também não está sendo tranquila. O festival surgiu após a prefeitura não ter aceitado transformar o Dia Zumbi dos Palmares em feriado municipal, ao contrário do que foi feito em diversas cidades brasileiras.

O Festival surgiu como uma espécie de compensação e foi transformado em lei municipal, passando a figurar no calendário de eventos culturais do município. Dispõe de orçamento de R$ 40 mil, verba da Secretaria da Cultura, que organizaria o evento juntamente com a Assessoria da Igualdade Racial.

Este ano, contudo, segundo o assessor da Igualdade Racial Ademir Félix de Jesus, problemas burocráticos impediram que o projeto do festival fosse concluído a tempo para os recursos serem utilizados.

O resultado foi que a Assessoria conseguiu cerca de R$ 20 mil junto à Acim para investir no festival e a Prefeitura cedeu a infraestrutura, apoiando como pode os projetos que as entidades já realizavam. Os R$ 40 mil que a Lei 8.316/2009 previa para o festival se perderam na burocracia.

sábado, 6 de novembro de 2010

Dilma deve tirar Meirelles do BC para reduzir juros logo no início do governo

Ao contrário de Lula, que deu carta branca às medidas de contenção de inflação do Banco Central, presidente eleita quer ser avalista de política mais voltada ao crescimento econômico e estímulo ao setor privado, incluindo micro e pequenas empresas

06 de novembro de 2010 | 17h 57


João Domingos, de O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - Embora avalie que o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, foi importante para sustentar a política de combate à inflação do governo Lula e certeiro nas medidas de contenção dos efeitos da crise econômica mundial de 2008 e 2009 no Brasil, a presidente eleita, Dilma Rousseff, tende a não aproveitá-lo no posto.

É certo que Dilma vai centralizar em torno de si todas as ações econômicas do início do governo, disse ao Estado um de seus mais importantes colaboradores.

Pretende, com isso, alcançar dois objetivos: forçar a redução nas taxas de juros logo na primeira reunião do Conselho de Política Monetária (Copom) e mostrar que, ao contrário do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ela terá o controle de todos os setores do governo, a começar pela economia.

Tanto é assim que o primeiro bloco de auxiliares a ser anunciado será o da equipe econômica.

Com a centralização e a pressão explícita para que os juros baixem - o que Lula nunca exerceu em relação ao Banco Central -, Meirelles ficará numa posição desconfortável, pois sua política de combate à inflação tem sido sempre a de, por absoluta prevenção, manter os juros altos.

A própria Dilma se garante como avalista da estabilidade econômica. Em entrevista ao SBT, na terça-feira à noite, ela avisou que fará a centralização.

"Não serão pessoas que serão responsáveis por isso", afirmou, referindo-se ao tripé formado por metas de inflação, câmbio flutuante e contas equilibradas.

"Sou eu a responsável. E como responsável, eu asseguro: seja quem esteja à frente do cargo, eu assegurarei no País a questão da estabilidade econômica."

Embaixada

Uma solução para Meirelles - e ele já se mostrou simpático à ideia - seria nomeá-lo embaixador do Brasil em Washington.

É um nome com muito trânsito nos meios financeiros e governamentais, atributos essenciais para a interlocução de um governo Dilma que ainda não tomou posse mas já faz coro e, ao lado de Lula, acusa os Estados Unidos de, junto com a China, promoverem uma "guerra cambial" no mundo.

O PMDB, ao qual Meirelles é filiado, ainda tem esperanças de emplacá-lo no Ministério da Fazenda ou no dos Transportes.

Mas Dilma tem sido aconselhada a manter Guido Mantega, decisão que contaria com a simpatia de Lula.

E o Ministério dos Transportes é um feudo do PR, embora o PMDB esteja, numa espécie de escambo político, tentando trocá-lo pela Agricultura.

Conforme um integrante do governo muito próximo de Dilma, ela quer lotar o setor econômico na Esplanada dos Ministérios com "defensores de ações desenvolvimentistas" - como ela.

A presidente eleita acredita que, assim como ocorreu na gestão Lula, principalmente depois da crise econômica mundial, o governo tem entre os seus papéis fundamentais fazer a indução para o desenvolvimento e o crescimento econômico.

Na visão de Dilma, exposta ao longo de conversas mantidas na campanha, será preciso reduzir os juros para "contaminar o setor privado" e incentivá-lo a investir cada vez mais.

O plano estratégico prevê alcançar a meta de taxa real de 2% de juros (descontada a inflação) em 2014.

Ela defende ainda a desoneração da folha de pagamentos e investimentos muito fortes nas micro e pequenas empresas.

Para tanto, Dilma pretende elevar o limite de enquadramento de empresas no Simples Nacional. "Esse foi um dos melhores modelos: aumentamos a arrecadação, o grau de formalização da economia", disse ela na entrevista ao SBT. "Pretendo aumentar o limite de enquadramento."

Dessa forma, explicou, mais empresas poderão se beneficiar do sistema tributário simplificado. Ela, porém, não revelou qual seria o novo limite.

Atualmente, são consideradas microempresas passíveis de inscrição no Simples aquelas que têm faturamento bruto de até R$ 240 mil ao ano.

O programa também admite empresas de médio porte com faturamento de até R$ 2,4 milhões.

Hoje, há cerca de 3,9 milhões de pessoas jurídicas inscritas no programa. Também está em análise a elevação do limite de enquadramento dos microempreendedores individuais (MEI), hoje em R$ 36 mil ao ano.

Pasta

Dilma revelou durante a campanha ter "vontade" de criar um ministério específico para as micro, pequenas e médias empresas.

O nome mais cotado para essa nova pasta é o de Alessandro Teixeira, atual presidente da Agência de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), um dos coordenadores da sua campanha presidencial.

Ela acredita que será possível fundir ministérios, fazendo com que a estrutura de governo fique do tamanho da atual, com 35 ministros.

O ideal seria reduzir, mas Dilma não vê como atender à base partidária governista - que tem uma dezena de legendas - promovendo uma lipoaspiração na Esplanada.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

'Não acredito que manipular câmbio resolva coisa alguma', afirma Dilma

Em entrevista ao 'JN', presidente eleita sustenta 'compromisso forte com os pilares da estabilidade macroeconômica'

02 de novembro de 2010 | 0h 00

O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA
SÃO PAULO

Em uma de suas primeiras entrevistas como presidente eleita, Dilma Rousseff (PT) afirmou ontem, com crítica direta ao governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que tem "compromisso forte com os pilares da estabilidade macroeconômica" e manterá o câmbio flutuante.
Segundo ela, com o compromisso, o País estará protegido contra "qualquer tipo de guerra ou especulação internacional". "Não acredito que manipular câmbio resolva coisa alguma. Nós temos uma péssima experiência disso", disse Dilma ao Jornal Nacional, da TV Globo.
Ao deixar ontem à noite o estúdio da emissora, em Brasília, Dilma não quis adiantar que medidas adotará, mas garantiu que não vai fazer "nada que produza marola ou crie confusão".
A presidente eleita afirmou ainda, durante a entrevista, que fará uma transição "técnica e política" e que anunciará a composição de seu governo em "blocos", mas até o momento não há nenhum nome definido.
Durante a entrevista, a presidente eleita comentou reportagens da emissora sobre sua história pessoal e política. E cometeu o deslize de se intitular a "única búlgara - entre aspas - que teve algum sucesso fora da Bulgária". Veja trechos.
Roberto Stuckert Filho
Roberto Stuckert Filho
Sem cortes. Dilma, durante entrevista a William Bonner, nos estúdios da TV Globo: 'Câmbio fixo quase nos levou a uma situação de crise muito grande'
ORIGEM BÚLGARA
"Foi uma emoção para mim e acho que também uma emoção para eles. É um país pequeno. Você imagine, nesse país pequeno, em que o Brasil visto de lá, é 190 milhões de pessoas, é um País que está se desenvolvendo, criando emprego, um País que é visto no mundo como uma das grandes oportunidades. Eu acredito que sou a única búlgara - entre aspas - que teve algum sucesso fora da Bulgária. Eu não sei falar uma palavra em búlgaro. Nada."
DA DITADURA AO PLANALTO
"O mundo foi mudando, e eu com o mundo. Eu agradeço a Deus a oportunidade que Ele me deu de participar do governo Lula. Acho que ali começa o grande sonho da minha geração, que era que o Brasil crescesse e ao mesmo tempo distribuísse renda, que crescesse e ao mesmo tempo milhões de pessoas fossem tiradas da pobreza. E o que eu tenho como missão daqui para frente é continuar esse processo dentro da legalidade, do fortalecimento da democracia, da liberdade de imprensa, continuar esse processo de transformação do Brasil e de estabilidade. Teve, logo no inicio da democracia, um período em que a gente tinha herdado do final da ditadura, que era inflação alta e dívida externa se explodindo. Hoje nós somos um País que tem todas as chances de se transformar."
NOTÍCIA DA VITÓRIA
"Na hora que vem a notícia, você está assim um pouco anestesiado. E aí é preciso que o tempo passe e você absorva todo o impacto de uma notícia desse tamanho, que é uma notícia com a grandeza do Brasil. É uma notícia assim: daqui para frente você vai ser responsável por este país continental e imenso e por 190 milhões. Eu fui chorando aos poucos. Não chorei assim de uma vez só. Chorei chegando em casa, bastante."
COMPOSIÇÃO DO GOVERNO
"Nós vamos fazer uma transição de dois tipos. Uma transição técnica, ou seja, avaliando todos os aspectos técnicos que serão importantes que a gente tome providência no sentido de que sejam aqueles que a gente vai encaminhar primeiro. Em seguida, ou paralelamente, vamos fazer uma transição política, vamos ter de ver a composição do governo, que tem esses dois aspectos. Vou me esmerar para ter um governo em que a escolha dos ministros e dos cargos da alta administração seja provida por esses dois critérios. E eu pretendo não fazer anúncios fragmentados, espalhados ou individualizados - mas fazer por blocos.
ECONOMIA
Eu acho que o câmbio é flutuante, no entanto indícios de que há hoje no mundo uma guerra cambial são muito fortes. Acho que tem moedas subvalorizadas. Então eu acredito que uma das coisas importantes são as reuniões multilaterais em que fique claro que nós iremos usar todas as armas para impedir o dumping, política de preços que prejudiquem as indústrias brasileiras. E vou olhar com muito cuidado, porque não acredito que manipular câmbio resolva coisa alguma. Nós temos uma péssima experiência disso. Você lembra do câmbio fixo, o que ele levou à Argentina e quase nos levou também: a uma situação de crise muito grande. Eu tenho um compromisso forte com a questão dos pilares da estabilidade macroeconômica. Com o câmbio flutuante, e nós temos hoje uma quantidade de reservas que permite que a gente inclusive se proteja em relação a qualquer tipo de guerra ou de manipulação internacional. Mas eu acredito também que nós iremos passar por um momento em que o mundo vai estar com nível de crescimento menor. Agora acredito também que o ajuste das economias internacionais não pode ser feito com base em desvalorizações competitivas, que você tenta ganhar seu ajuste nas costas do resto do mundo.
LIBERDADE DE IMPRENSA
O Brasil pode dar uma demonstração de muita vitalidade com a imprensa livre que nós temos e com essa relação em que muitas vezes as críticas existem, e eu acredito que elas cumprem um papel no Brasil, e pode ter certeza que da minha parte a minha relação com a imprensa vai ser sempre uma relação respeitosa.
Declarações
DILMA ROUSSEFF
PRESIDENTE ELEITA
"Eu tenho compromisso forte com a questão dos pilares da estabilidade macroeconômica. Nós temos hoje uma quantidade de reservas que permite que a gente inclusive se proteja em relação a qualquer tipo de guerra ou especulação internacional"
"Acredito que sou a única búlgara - entre aspas - que teve algum sucesso fora da Bulgária. Não sei falar uma palavra em búlgaro"
"Naquela época (da ditadura) a gente jamais acreditou também que o Brasil viria a se transformar em uma grande democracia"